Marie-Dominique Chenu

Marie-Dominique Chenu

Marie-Dominique Chenu é um dos grandes nomes dos teólogos do Século XX, com seus vários estudos acerca da natureza da teologia e suas atividades, mas tendo uma contribuição especial e pioneira na área de teologia do trabalho. Sendo um historiador da Idade Média, ele utiliza os seus conhecimentos para analisar os sinais dos tempos, e atualizá-los em seu contexto histórico. Foi essa dupla pertença de Marie-Dominique Chenu, como historiador e teólogo, que o permitiu fazer grandes investigações sobre a ação da Igreja no mundo.

Marie-Dominique Chenu nasceu em 7 de janeiro de 1895, na França, e aos dezoito anos se mudou para a Bélgica, para adentrar a Ordem dos Pregadores, onde permaneceu por dois anos. Esse evento marcou muito a sua vida, pois neste período ele descobriu o seu gosto pela vida contemplativa. Mas, ao retornar para França em 1915, deparando-se com os conflitos no mundo, em meio à primeira guerra mundial, ele sentiu o chamado de agir no mundo. Pois percebeu que o aperfeiçoamento pessoal não vinha somente da vida contemplativa, mas também era possível através da ação no mundo: “É para isso, é exatamente para estes que sou enviado! Retornar ao mundo, eis a lei da minha vida, incluindo também a da minha perfeição pessoal.’ Esse é um dos traços típicos da minha vocação, como também de minha missão de teólogo.” (MONDIN, 1979, p.124). E foi neste período que o teólogo se determinou a agir em benefício do mundo, e não somente de si mesmo.

Mas ele não permaneceu na França, pois logo foi enviado à Roma para estudar Filosofia e Teologia no Colégio Angélico, onde se aprofundou no tomismo, sob a orientação de outro grande nome da Teologia, Garrigou-Lagrange. Em 1920, com 25 anos, Chenu obteve o doutorado em teologia, e na sequência retornou para a França, onde foi nomeado professor, e posteriormente reitor, da faculdade de teologia Le Saulchoir, um grande centro de medievalistas e tomistas daquele tempo. Em 1937 ele escreveu o livro Une école de théologie: reflexões sobre a natureza e tarefas da teologia, o qual foi colocado no Index (lista de livros proibidos) em 1942. Devido a esta situação, Chenu pediu demissão da faculdade e se exilou durante quatro anos. Em 1946 foi nomeado professor em Sorbona (Sorbonne, Paris), mas em 1953 voltou como professor para a faculdade de Le Saulchoir.

Em 1954, Chenu já estava engajado nas questões relacionadas à teologia do trabalho, envolvendo-se no movimento da JOC (Juventude Operária Católica) e dos padres operários, e por este motivo teve que deixar a cidade por ordens do Vaticano. Porém, mesmo assim ele foi convocado para o Concílio Vaticano II, na qualidade de perito pessoal de um bispo de Madagascar, tendo sido bastante ouvido, e dado grandes contribuições à elaboração do Esquema XIII (Gaudium et Spes, “Alegria e Esperança”, uma Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual).

Sua produção científica foi vasta, chegando a quase 400 escritos, incluindo doze livros. Parte de suas obras eram de caráter histórico, tratando da Teologia medievalista e tomismo, com três grandes estudos fundamentais para o entendimento da escolástica e do pensamento de São Tomás: Introduction à l’étude de saint Thomas (1950), La théologie comme science au XIII scècle (1942), e La théologie au XII siècle (1957). Mas foi a vertente de suas obras relacionada à teorética que o levou à proeminência entre os teólogos do século XX, sendo as mais significativas: Pour une théologie du travail (1955), La parole de Dieu (1964), La Théologie est-elle une science? (1957), e Peuple de Dieu dans le monde (1966). Assim se via o próprio Chenu:

“[…] um velho medievalista de certa fama, imerso na leitura de textos antigos, estofado de erudição, ligado aos velhos séculos da cristandade, em uma tradição que se obstina a manter-se em meio ao mundo contemporâneo; do outro, um jovem que se lança indócil na confusão do mundo contemporâneo, extremamente sensível aos seus apelos, pronto a enfrentar os problemas delicados do mundo e da Igreja.” (MONDIN, 1979, p.127)

Um teólogo que une os conhecimentos de história e teologia, para encontrar formas de beneficiar o mundo. E foi com este objetivo, de agir no mundo, que foi o pioneiro em desenvolver a teologia do trabalho, em meio aos desafios e dificuldades do surgimento do trabalho industrial, que tomava o lugar do trabalho artesanal. Foi neste contexto que Chenu encontrou formas de unir a missão da Igreja à missão do trabalho, como sustento não somente do corpo, mas do espírito. Para o teólogo, o trabalho deve ser para o bem coletivo, da sociedade, não individual, e para isso deve ter um valor objetivo, não subjetivo, pois está orientado para o bem de todos.

“O trabalho não pode ser considerado e definido primeiramente com base nas fontes subjetivas, ou seja, nas intenções, boas e más, do trabalhador, mas sim no seu valor objetivo, ou seja, no fim a atingir por meio da própria obra na sua realização, para além das intenções, emoções e outros sentimentos. Em sua linguagem escolástica, aquilo que define primeiramente o trabalho é o finis operis, a perfeição da obra, antes do finis operantis, a perfeição do trabalhador. O trabalhador trabalha por sua obra antes mesmo que por si mesmo. O trabalhador submete-se à sua obra.” (MONDIN, 1979, p. 146).

Mas com isso Marie-Dominique Chenu não está afirmando que o trabalho deve se tornar um fim supremo, pelo qual o homem alcança a sua perfeição definitiva, mas deve ser considerado um “fim segundo”, como um instrumento de perfeição para obtenção do progresso (MONDIN, 1979, p. 147). Para ele, a teologia é incapaz de esvaziar de espiritualidade o trabalho, pois é através do próprio trabalho que o homem é chamado a cooperar com Deus, como um “co-criador do universo”. E por isso Marie-Dominique Chenu afirma que o trabalho e a espiritualidade não podem ser separados, pois o trabalho é sacro: “[…] recuperamos uma antiga ideia, bastante tradicional, segundo a qual não há dois domínios, um sacro, outro profano, da atividade humana. Não há senão um só domínio, onde tudo é sacro, para o cristão, na realidade em que trabalha.” (MONDIN, 1979, p. 149). E esta visão santifica o trabalho do homem, mudando sua forma de ver o mundo, ao transformar o seu esforço árduo em uma forma de louvor à Deus.

É com esta visão atuante no mundo, que Marie-Dominique Chenu, como historiador e teólogo, trouxe grandes contribuições para a Teologia do século XX, levantando questões que impactam até hoje, principalmente em relação à Teologia do Trabalho e à natureza da Teologia e suas atividades. Suas obras e o seu exemplo de vida nos trazem, portanto, muito conteúdo para ser aplicado em nossos estudos teológicos e em nossa vida cristã.

Biografia:

MONDIN, Batista. Os grandes teólogos do século vinte. Tradução José Fernandes, São Paulo, Edições Paulinas, 1979.

Nayara Maron Costa Takahashi, 15 de maio de 2022.

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