Faz-se necessário mencionar que a espiritualidade dominicana é, antes de tudo, cristã. Essa percepção tem sido evidente ao longo da minha trajetória e experiência de oração, pois ela é profundamente cristocêntrica. Neste artigo falaremos de alguém além de Domingos, o Salvador, Jesus Cristo.
A junção dos verbetes nos revela a essência do seu ser: ‘Cristo + Centro’, ou seja, a figura do Messias Central. Colocar Cristo no centro é tê-lo como ponto focal de nossa vida e missão.
Recentemente, passamos pelas festas de Santo Antônio, Natividade de São João Batista, e ainda celebramos as festas de São Pedro e São Paulo, estes últimos considerados os grandes pilares da Igreja.
Tenho certa predileção por Pedro em relação a Paulo, porque ele foi aquele que mais se aproximou de Deus, mesmo com suas imperfeições. Pedro era o mais bruto, inesperado e explosivo, mas foi ele quem disse ‘sim’ e aceitou ser pescador de homens, recebendo a chave dos céus.
Automaticamente, lembro-me daquela emocionante passagem em que Pedro faz a mais bela profissão de fé:
“Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho, ele perguntou a seus discípulos: ‘Quem dizem os homens que eu sou?’ Eles responderam: ‘Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas.’ Então Jesus perguntou-lhes: ‘E vocês, quem dizem que eu sou?’ Pedro respondeu: ‘Tu és o Messias.’” (MC 8,27-29)
Ao afirmar isso, Pedro demonstra uma certeza e confiança profundas em Cristo, além de sua prontidão ao dar a resposta no momento oportuno, movido por algo que pulsava em seu íntimo.
Também é importante mencionar João Batista, que reconhecia e anunciava sua própria pequenez ao declarar que ‘viria um maior e mais forte’. Vale destacar sua presença no ventre de sua mãe, Isabel, ao saltar durante a Visitação da Virgem Maria. João vibrava com a presença do Salvador desde antes do nascimento, reconhecendo o grandioso papel que o Messias desempenharia.
Paulo, com sua intensidade e vasto ensinamento ao longo de suas cartas, dispensa comentários, mas nos lembra que nunca é tarde para se converter. Ele teve que ter sua visão tirada e passar por outras experiências para se converter e tornar-se um seguidor do Messias.
Por fim, Santo Antônio, doutor da Igreja, ou como é conhecido no Brasil, o santo casamenteiro, nos traz uma história atribuída a ele. Uma jovem noiva, sem dote na época de Antônio, pediu-lhe ajuda, e ele deu-lhe uma folha de papel de pão, dizendo que o noivo pagaria o peso que a balança marcasse. Milagrosamente, deu quilos, embora a quantidade exata não seja conhecida. Esse evento foi louvável para o casamento.
Você que está lendo pode se perguntar por que estou falando de tudo isso, já que iniciei este escrito falando de Cristo. Eis a resposta: todos os mencionados – João, Pedro, Paulo, Isabel e Maria – foram seguidores de Cristo até as últimas consequências e tiveram conversões diárias e radicais. Domingos nos aponta para o “crucificado” e para o anúncio da Ressurreição, sendo essencial para o nosso carisma como dominicanos e dominicanas.
A ideia central deste escrito é apresentar o Cristo por meio da história dos Santos, daqueles que acreditaram antes de nós e deixaram o testemunho do valor e bem-estar que sentiram ao segui-lo, apesar dos obstáculos e tribulações. Perseverar e ter coragem são como mantras para o cristão.
Cristo nos disse para não temermos, pois estará sempre conosco! Que possamos, diante dos testemunhos dos Santos mencionados e dos Santos de hoje, perceber a presença do próprio Cristo e anunciar sua boa-nova sem medo.
Que peçamos a intercessão de nossa baluarte, Margarida Città di Castello, em assistência aos mais necessitados e àqueles que sentiram o amor de Deus e o compartilharam com todos ao seu redor. Que tenhamos olhos para ver o amor de Deus e clareza na missão.”
Texto escrito na sexta-feira, 30 de Junho de 2023 – 12ª Semana do Tempo Comum
Ana Beatriz Menezes, OP.
Acompanhe a Novena preparatória para a Festa de São Domingos de Gusmão, celebrada no dia 8 de agosto: